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Épica do sr. Nilo

  Para meus olhos de criança, Nhô Nilo parecia muito velho. Um homem negro, sábio, que morava naquele lugar mágico que era o sítio, que cuidava do cachorro que foi atropelado.  A entrada do sítio era muito longe da casa principal. Quando chegava algum carro, os cachorros de todos os cantos do sítio, cuidados por ele, vinham atrás dos carros para tentar morder os pneus, era a diversão popular dos bichinhos.  Até que um deles mordeu de fato um pneu, e o pneu o mordeu de volta. Eu fui olhar de perto, o cachorrinho sob os cuidados do caseiro ficava em uma caminha, perto do local onde ele cortava as lenhas. A mulher dele olhava o cãozinho, enquanto lavava as roupas de sua casa. Eu não quis me aproximar muito do cachorrinho que, pensei, iria morrer. Mas sobreviveu, só ficou manco.  É essa a épica dos meus olhos de criança. E os encantos do grotão, com a "bomba hidráulica" ( pump ) que fazia utilizável a água da bica, que Nhô Nilo instalou, engenhosamente.  Descobri uma foto de Nhô

Ainda o Sítio e, depois, alguma Poesia

 Um dia, com quase vinte anos, mostrei ao meu pai umas poesias, incerta se estavam dignas de serem poesias. Ele disse que sim, podia, eram poesias memorialísticas. Então, aqui estão duas, pois não sei se perdi as outras.  São verdadeiras, e refletem a visão de uma criança, na memória de uma adolescente. Recordação Uma cabana afundada no grotão Exala um cheiro estranho, Nem bom nem ruim, De fumo e suor. Nhô Nilo vive lá, Com seu cachorro doente De atropelado. Nhô Nilo foi o primeiro mistério da minha vida E o cão, o primeiro tocado de morte. Uma bomba hidráulica, que ele tem de reparar, Funciona na bica Pam-pam, pam-pam, pam-pam. Mais fundo no bosque há cogumelos de chapéu vermelho. E na parte nobre do sítio, Fileiras de rosas cercam a casa: A primeira paixão da minha vida. Elisa Sayeg março de 1985 SUSTO Com argila silvestre Meu pai fez uma carranca No sítio do meu avô. De pura diversão. A caratonha assustava, mas A perícia do escultor Impôs respeito. Durante a semana Ficou ela, a cara

O Sítio

 Incrível como o sítio marcou tanto a minha infância, mas provavelmente fomos lá umas três vezes ou quatro. Para pernoitar, uma vez, talvez um final de semana memorável. Todas as luzes tinham que ser apagadas, por ordem do meu avô. Luzes, no caso, velas, porque não quis instalar eletricidade. Minha mãe negociou, e conseguiu que tivesse uma pequena lamparina no corredor, para as crianças irem ao banheiro. O banheiro, aliás, tinha enormes aranhas no teto, lá habitavam por ordem de meu avô, e ninguém podia mexer com elas Fui uma vez mais, mas aí não era mais o sítio. Tinha sido loteado. Minha mãe contava que, quando criança e adolescente, era Bandeirante - Girl Guiding Movement, Girls Scouts nos Estados Unidos, também fundado por Robert Baden-Powell, escoteiras - e uma vez meu avô deixou acamparem no sítio, ela diz que foi o auge. Ficou feliz. O caseiro do sítio era o Seu Nilo, Nhô Nilo - nós, crianças, assim o conhecíamos. Ele tinha vários cachorros, que quando chegávamos pela longa estr